Fonte: Kim et al., 2016. Animal Conservation 19 (2016) 309–319. doi:10.1111/acv.12256
Nas redes de pesca é utilizada uma grande diversidade de materiais. Até aos anos 60 eram de origem natural (matéria-prima era o algodão e o cânhamo), mas após a 2ª Guerra Mundial e com o aparecimento do nylon, as fibras sintéticas rapidamente substituíram as naturais. O excelente desempenho na pesca, alta resistência e preço reduzido contribuíram para a sua utilização mundial no fabrico de redes de pesca. No entanto, as redes sintéticas apresentam uma grande desvantagem: são muito resistentes à degradação quando perdidas, abandonadas ou descartadas no mar, contribuindo para a pesca fantasma.
Para além do impacto direto das redes fantasma na fauna, flora e ambiente, os materiais sintéticos que as constituem com o tempo fragmentam-se em pequenas partículas que eventualmente acabam por se acumular nos ecossistemas e podem vir a ter efeitos cumulativos significativos a longo termo.
Assim, tornou-se percetível que uma opção promissora na redução de redes fantasma seria a utilização de materiais que se decompusessem na água do mar por ação de fungos e bactérias. Esta foi a opção escolhida pela República da Coreia que tem utilizado um método de produção de redes de pesca utilizando resinas biodegradáveis que se decompõem por ação microbiológica.
No mesmo âmbito, Kim e colaboradores (2016) estudaram as propriedades físicas e a viabilidade comercial de uma rede de monofilamento baseada numa resina biodegradável. Os resultados do estudo revelaram que as redes biodegradáveis:
- se degradavam imersas em água do mar ao fim de dois anos, perdendo a partir daí a capacidade de capturar organismos marinhos (durabilidade estimada das redes de nylon é de vários anos a décadas quando imersas em água do mar);
- os produtos finais de degradação são o dióxido de carbono, o metano e a água, não trazendo impacto adicional para os ecossistemas marinhos (as redes de nylon podem perder a sua capacidade de pesca fantasma, mas não desaparecem dos ecossistemas, uma vez que se degradam em microplásticos que continuam a perturbar os ecossistemas marinhos;
- capturaram cerca de 98,6% da espécie alvo e menor percentagem de espécies acessórias e juvenis em comparação com as redes de nylon.
As principais desvantagens identificadas prendem-se com o eventual período mais curto de vida útil comparando com as redes de nylon (que se situa nos 3 a 12 meses), e o custo inicial mais dispendioso. Estes dois fatores poderão dificultar a produção e utilização destas redes biodegradáveis e eventualmente a sua adoção terá de ser subsidiada no período de introdução ao mercado. Mas estes novos materiais provaram que em certas condições contribuem para a redução da pesca fantasma, podem reduzir a captura de peixe imaturo e ajudam à redução do lixo marinho produzido pela pesca.